O Blog do Gondim
Trata-se aqui de uma das tentativas do autor em se comunicar. Não se trata de diário, pois, a rotina diária certamente não será cumprida. Sabe-se lá quando voltará a escrever...
domingo, 30 de dezembro de 2012
O rosto de meu pai
Carlos Gondim
Tinha a barba espessa, densa, que ao roçar em minha pele dava a nítida impressão de que se tratava de uma lixa, daquelas de passar em madeira. Ele fazia isso de vez em quando, na hora em que eu me aproximava dele pra receber algum carinho. E aquela aspereza repentina me fazia sorrir. Sentia cócegas.
Um sinal de que não era uma verruga, mas salientava em seu rosto próximo do nariz, me chama a atenção também. Mais ainda quando enfermo, deitado em sua cama, ele coçava com seus dedos ou, quando não conseguia fazer isso, pedia pra que eu coçasse. Ele enrijecia a face e eu, em movimentos de vai e vem com meu dedo indicador, passava a unha sobre o sinal. Ele sorria e fechava os olhos como se aliviado ficasse.
Seu rosto jovem, à cabeça um capelo, aquele chapéu de formando. Era o seu retrato no dia de sua formatura em odontologia, emoldurado, ocupando um espaço nobre na sala de sua casa. Quem o via virava o olhar pra mim e dizia, invariavelmente: "É a cara do pai!". E eu cresci ouvindo de vez em quando essa frase...
Voltando à barba espessa do rosto de meu pai, lembro-me de que ele fazia um ritual diário. Naquele tempo não havia barbeador descartável. E a lâmina mais famosa era a Gillette, que passou a identificar o próprio objeto cortante. Ele pegava um copo de vidro, cuja superfície interna era lisa, pegava a "gilete" entre os dedos da mão direita, e em movimentos leves, a deslizava sobre o vidro. Assim, fazia a amolação diária da lâmina cuja vida útil durava meses e meses. O aparelho onde a "gilete" era colocada também era todo desmontável. E ele, cuidadosamente, verificava suas partes, as lavava e guardava no armário do banheiro. Postava-se em frente ao espelho e em movimentos lentos e cuidadosos ele fazia a barba. Acho que era nesses momentos anteriores de fazer a barba que ele brincava comigo roçando seu rosto em mim.
Seu rosto não era sisudo. Ria com moderação e quando fazia isso seus olhos brilhavam intensamente. A boca escancarava mostrando seus dentes bem cuidados. Dizia: "Acho-te uma graça!"
Rugas, as teve sim. Mas não chamava a atenção. Só eram percebidas quando ralhava com alguma estripulia que a gente fazia, ou mostrando desagrado com alguma situação ou fato.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Os Dois Irmãos.
Um fez agronomia, o outro engenharia florestal. Ambos na mesma época de FCAP, hoje UFRA. Um era brincalhão, o outro mais ainda. Um criou a Festa das Mocréias o outro ajudou a criar. O mais velho era um pouco mais calmo, o mais novo mais agitado. Um casou, por incrível que possa parecer, com uma colega de turma, o outro casou depois de formado, mas não com nenhuma colega. Um me apresentou a Banda do Cupijó o outro levou a banda em uma aula prática, claro com a minha autorização. Ambos enfim aproveitaram suas juventudes com toda a pujança e vigor!
Hoje os dois irmãos estão empreendendo uma das mais formidáveis iniciativas produtivas na cidade marajoara de Soure: Uma fábrica de produtos do côco (Cocus nucifera, aquela palmeira que emoldura uma grande extensão do litoral brasileiro, inclusive o de Soure, de cujas partes se aproveitam quase tudo.)
Um trepado em uma viga metálica de um grande galpão em construção, todo equipado com apetrechos de segurança soldando as peças da estrutura, o outro cuidando do piso lajotado que fazia parte da fábrica.
Um transportando uma “velha” caldeira para geração de eletricidade a partir da biomassa encontrada no meio da floresta em Redenção, Pará. O outro arrumando mão de obra e matéria prima para fazer a caldeira funcionar em Soure, Pará.
Ambos preocupados com o elevado consumo de energia elétrica da única fábrica de gelo em escamas que abastece os barcos pesqueiros de Soure.
Ambos heróicos empreendedores em uma terra em que o extrativismo e o isolamento ainda não deixaram a agricultura sustentável chegar.
Esses são os irmãos Nunes, dois de meus ex-alunos de ecologia na Universidade Federal Rural da Amazônia que nos idos de 1992 era ainda a Faculdade de Ciências Agrárias do Pará.
terça-feira, 21 de junho de 2011
Tributo a um grande mestre.
Quis o destino que eu não tenha sabido do falecimento do meu querido e estimado Prof. Calzavara em tempo hábil para prestar-lhes a última homenagem.
Desde fevereiro deste ano estamos eu e minha nova família morando na cidade de Soure, no Marajó. Neste sábado 18, porém, por um daqueles sinais não explicáveis, me deu uma vontade enorme de pesquisar o nome Batista Benito Gabriel Calzavara no Google, na internet. Não sei porquê, mas fiz isso. E para a minha triste surpresa entre outros resultados encontrei um que informava do falecimento do Dr. Calzavara. Puxa vida, pensei! Morava no mesmo prédio que o Benito, seu filho. A gente se cruzava ocasionalmente por lá e desta vez foi impossível. Estava eu em Soure. A comunicação aqui não é das mais fáceis. Televisão só a Liberal e a Cultura, se não tiver antena parabólica.Ee a gente não tinhauma... Da UFRA recebo diariamente mensagens eletrônicas da assessoria de comunicação, ASCOM, mas não li ou não recebi nenhuma referente ao triste fato.
“Esse Gondim é da Paraíba? – Sim, senhor! Esse Gondim é de Areia? -- Sim, senhor! Esse Gondim é parente do Juquinha? -- Sim, senhor!” Foi mais ou menos assim o diálogo que o Dr. Calzavara teve com o meu saudoso e querido pai em Clevelândia, Amapá nos idos dos anos 60! Meu pai era do exército brasileiro e estava servindo por lá. O Dr. Calzavara mais o Dr. Rubens Lima, Dr. Eurico Pinheiro (saudoso!) e outros que não lembro agora, estavam em missão técnica do IAN/IPEAN por lá. Na recepção aos mesmos a tropa estava perfilada para a “revista” dos viajantes e o papai estava na primeira fila. O Dr. Calzavara ao ler o nome Gondim na farda estabeleceu esse diálogo. Ao final da confirmação o Dr. Calzavara deu um caloroso abraço em meu pai quebrando certamente todo o protocolo da cerimônia. Este episódio meu saudoso pai contava com carinho e satisfação. Fui saber que o Prof. Calzavara formou-se em agronomia na Escola de Agronomia de Areia, Paraíba, que ficava ao lado do engenho de meu estimado avô onde o querido mestre passava horas e horas...
Bem, tenho muitas outras felizes recordações deste que foi o meu grande mestre na agronomia. Foi através da generosidade dele que entrei na vida de professor da então FCAP. Ele me guardou na minha primeira aula de Silvicultura que tive que dar! Permaneceu na sala de aula até o final! Fiquei feliz e me encorajei na novíssima e inusitada função de professor que iniciara.
Foi ele também uma das testemunhas de meu primeiro casamento! Ele e o saudoso Álvaro Pantoja, o Pimentinha! Quanta responsabilidade, pensei naquela época!
A vida quis assim. Guardo essas e outras recordações. Guardo a generosidade! A enorme competência profissional! Guardo o pioneirismo na agronomia no Pará e na Amazônia! Guardo a imagem de um homem forte, decidido, de passos largos vindo da antiga horta da fitotecnia da FCAP/UFRA!
Esse é o meu mestre eterno Calzavara!
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Com a licença do grande Luiz Fernando Veríssimo.
BIG BROTHER BRASIL
(Luiz Fernando Veríssimo)
Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço...A décima primeira (está indo longe!) edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil,... encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.
Dizem que em Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema banalização do sexo. Impossível assistir, ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos, na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB é a realidade em busca do IBOPE...
Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um “zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.
Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo.Eu gostaria de perguntar, se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis?
São esses nossos exemplos de heróis?
Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros: profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados..
Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a isso, todo santo dia.
Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.
Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada, meses atrás pela própria Rede Globo.
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral.
E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!
Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social: moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros?
(Poderiam ser feitas mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores!)
Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.
Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir.
Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construída nossa sociedade.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Diga não às Drogas
Ufa! Tentei me recompor. Tinha eu acabado de estacionar o meu Toyota Bandeirantes, 1980, taipá de madeira com o qual transitava por Belém afora e que me levava diariamente para o trabalho. Era o ano de 1992, por aí assim. Voltei e fui ao encontro da senhora. Era uma senhora bem trajada, porém, um pouco agitada. Pedi pra ela repetir o que tinha dito. Ela mais agitada ainda, repetiu:
– É o senhor, é o senhor que é o responsável pela entrada de drogas nessa faculdade!
Gritou novamente e fazendo o gesto de abrir a bolsa que levava a tiracolo. Num lampejar, pensei, apavorado:
– Ela vai tirar um revólver pra me matar! Não tive nenhuma outra reação a não ser aguardar o tiro quiçá fatal! Em vez do revólver, tirou um caderno de anotações. Gesticulava sem parar e falava coisas que não lembro. Refeito, percebi a situação e entrei na dela:
– Veja aqui, minha senhora! Leia o que está escrito no pára-choques do meu caminhãozinho!
Falei pra ela apontando para o pára-choques traseiro onde se lia: “Diga não às drogas!”.
Ela fez que viu e leu. Em seguida, voltou para o táxi que à esperava mais adiante, subiu e sumiu na direção da saída da faculdade. Eu, recuperado do susto me dirigi à sala do Departamento de Fitossanidade, peguei o telefone e liguei para a secretária do diretor:
– Ei, tem uma senhora no campus da FCAP dizendo coisas sobre drogas na faculdade!
– Ah professor, ela acabou de sair daqui da diretoria! Falou a mesma coisa para o diretor!
domingo, 17 de outubro de 2010
Se tu tens um ente querido enfermo...

Se tu tens um ente querido enfermo...
Se tens um ente querido enfermo...
Se este teu ente querido enfermo precisar ser internado em uma UTI...
Se já irremediavelmente internado em um hospital que tu mesmo não escolheste, tu vires durante a tua visita diária ao teu ente querido na UTI:
Gotas de água condensada na saída do ar condicionado localizado dentro da UTI e ao redor o teto manchado, provavelmente mofado...
A anotação da idade de teu ente querido errada nos censos e cartaz de identificação do
paciente, mesmo que seja para menos, ou seja, se teu ente querido num passe de mágica
rejuvenesceu 20 anos dentro da UTI...
Se ouvires o bip de um dos aparelhos que ajudam a manter teu ente querido vivo dentro da UTI disparar e nenhum enfermeiro mover-se para algum procedimento tomar...
O médico intensivista te falar palavras técnicas durante os poucos minutos dedicados em te dizer como está a vida de teu ente querido...
Este mesmo médico ou o outro médico do plantão seguinte te falar em “desmame”
ou “rolha”...
Se de manhã teu ente querido tiver sido acometido de enfisema agudo do pulmão e, na tarde do mesmo dia, outro médico te disser que a causa de ele estar na UTI é insuficiência cardíaca...
Se num dia teu ente querido tiver acometido de anemia e no dia seguinte esta mesma anemia não existir, segundo palavras do médico do dia, mesmo se tiver tomado sangue...
Se, porém, superando tudo isso teu ente querido depois de 23 dias sair vivo da UTI e
ser transferido para um quarto ou apartamento, repara:
Que o quarto destinado a ele não seja trocado três vezes, antes mesmo de ele chegar...
Se o teu ente querido vencendo a UTI chegar em uma cama sem as grades laterais protetoras e nela ficar no quarto finalmente a ele dedicado...e só depois de cerca de 3 horas ele estiver protegido da síndrome da UTI em uma cama com as devidas proteções...
Se tu, vendo teu ente querido agitado, pedires ajuda no posto de enfermagem mais próximo e ouvires uma voz vinda de dentro dizendo que o médico acompanhante só passa pela manhã e isto acontecer pela parte da tarde...
Se teu ente querido tiver mais de 65 anos e obrigatoriamente precisar da presença de um
acompanhante o tempo que estiver no quarto ou apartamento, e na recepção te falarem que para fornecer a refeição desse acompanhante será necessária a autorização da prestadora de serviço de saúde...
Se teu ente querido por impossibilidade física de ir ou ser levado ao vaso sanitário defecar na falda geriátrica e no posto de enfermagem não tiver material para fazer a sua higiene imediata...
E muito menos, se tiveres sede ou o próprio teu ente querido sede tiver e a copa informar que está fazendo mingau e não pode atender de imediato teu pedido...
Se depois de transcorridos dois dias tu ouvires do médico acompanhante que teu ente querido poderá receber alta nos próximos dias...
Se ele vier a falecer no terceiro dia em que está no quarto sem ao menos aparentar algo grave ou que seu estado de saúde piorasse irreversivelmente...
Então acredite:
O melhor plano de saúde é viver!
Tudo isto aconteceu com a minha querida mãezinha!
Se tens um ente querido enfermo...
Se este teu ente querido enfermo precisar ser internado em uma UTI...
Se já irremediavelmente internado em um hospital que tu mesmo não escolheste, tu vires durante a tua visita diária ao teu ente querido na UTI:
Gotas de água condensada na saída do ar condicionado localizado dentro da UTI e ao redor o teto manchado, provavelmente mofado...
A anotação da idade de teu ente querido errada nos censos e cartaz de identificação do
paciente, mesmo que seja para menos, ou seja, se teu ente querido num passe de mágica
rejuvenesceu 20 anos dentro da UTI...
Se ouvires o bip de um dos aparelhos que ajudam a manter teu ente querido vivo dentro da UTI disparar e nenhum enfermeiro mover-se para algum procedimento tomar...
O médico intensivista te falar palavras técnicas durante os poucos minutos dedicados em te dizer como está a vida de teu ente querido...
Este mesmo médico ou o outro médico do plantão seguinte te falar em “desmame”
ou “rolha”...
Se de manhã teu ente querido tiver sido acometido de enfisema agudo do pulmão e, na tarde do mesmo dia, outro médico te disser que a causa de ele estar na UTI é insuficiência cardíaca...
Se num dia teu ente querido tiver acometido de anemia e no dia seguinte esta mesma anemia não existir, segundo palavras do médico do dia, mesmo se tiver tomado sangue...
Se, porém, superando tudo isso teu ente querido depois de 23 dias sair vivo da UTI e
ser transferido para um quarto ou apartamento, repara:
Que o quarto destinado a ele não seja trocado três vezes, antes mesmo de ele chegar...
Se o teu ente querido vencendo a UTI chegar em uma cama sem as grades laterais protetoras e nela ficar no quarto finalmente a ele dedicado...e só depois de cerca de 3 horas ele estiver protegido da síndrome da UTI em uma cama com as devidas proteções...
Se tu, vendo teu ente querido agitado, pedires ajuda no posto de enfermagem mais próximo e ouvires uma voz vinda de dentro dizendo que o médico acompanhante só passa pela manhã e isto acontecer pela parte da tarde...
Se teu ente querido tiver mais de 65 anos e obrigatoriamente precisar da presença de um
acompanhante o tempo que estiver no quarto ou apartamento, e na recepção te falarem que para fornecer a refeição desse acompanhante será necessária a autorização da prestadora de serviço de saúde...
Se teu ente querido por impossibilidade física de ir ou ser levado ao vaso sanitário defecar na falda geriátrica e no posto de enfermagem não tiver material para fazer a sua higiene imediata...
E muito menos, se tiveres sede ou o próprio teu ente querido sede tiver e a copa informar que está fazendo mingau e não pode atender de imediato teu pedido...
Se depois de transcorridos dois dias tu ouvires do médico acompanhante que teu ente querido poderá receber alta nos próximos dias...
Se ele vier a falecer no terceiro dia em que está no quarto sem ao menos aparentar algo grave ou que seu estado de saúde piorasse irreversivelmente...
Então acredite:
O melhor plano de saúde é viver!
Tudo isto aconteceu com a minha querida mãezinha!
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Tem centopeia no raspa-raspa
Na rampa de embarque e desembarque de veículos e pessoas localizada na margem esquerda do rio Paracauari, em Soure, Pará, existem, como em outros lugares afora, diversos vendedores de alimentos populares. São chopeiros, sorveteiros, cocadeiros, raspa-raspeiros, unheiros e coxinhas, dentre outros alimentos menos votados.
Lá, porém, destaca-se o Seu Regatão, vendedor de raspa-raspa. Pra quem não sabe ou não lembra, raspa-raspa é aquele refresco misturado com gelo raspado por uma maquininha manual sobre uma tábua em um carrinho de madeira com formato de barquinho. Nos bordos, ficam as garrafas de vidro com os diversos sabores de refresco. Na proa, fixam-se os copinhos e canudinhos. O operador na popa prepara o raspa-raspa em movimentos de vai e vem sobre uma pedra de gelo. O gelo assim raspado é colocado no copo e ao fim adicionado o sabor de refresco escolhido pelo consumidor. O do Regatão é servido com um canudinho de plástico, desses usados para tomar refrigerantes e sucos.
No último retorno meu de Soure para Belém encarei o raspa-raspa do Regatão, como, aliás, de vez em quando fazia. Era início de setembro e um sol escaldante das 13 horas pedia um alívio. O raspa-raspa do Regatão cumpriria essa missão. Escolhi o sabor muruci. Preparou e me deu. Na minha primeira aspiração (poderia dizer chupada...), em milésimos de segundo, senti uma coisa diferente: “Seria uma novidade! Pedaços da fruta dentro do refresco!”, pensei mais rapidamente ainda. Nesse lapso infinitesimal de tempo decorrido, cuspi! Depois de concluir que o murici não produz “pedaços” que possam se misturar no refresco e a gente sentir a sua deliciosa massa. Olhei para o chão pra onde tinha lançado o estranho conteúdo da minha boca. Observei, esperei mais alguns segundos. Finalmente vi uma coisa se mexendo ainda molhada, não acreditei: uma fininha centopeia de uns sete a dez centímetros de comprimento!
Parcialmente recuperado do susto e não acreditando no que via, falei pro Regatão: “Estás inovando! Agora teu raspa-raspa vem com centopeia! Melhor fosse se viesse com um turuzinho...”. O Rega olhou e perguntou: “Cadê?”. Ainda deu tempo de ele ver o bichinho se movendo por entre as folhas da grama. Impávido e encorajador virou pra mim como se nada tivesse acontecido, me entregou um novo canudinho e disse: “Toma com esse daqui. O pacote daquele já tava aberto...”. E embarquei na balsa e nessa viagem incrível do raspa-raspa com centopeia!
Taqui o Rega:
Lá, porém, destaca-se o Seu Regatão, vendedor de raspa-raspa. Pra quem não sabe ou não lembra, raspa-raspa é aquele refresco misturado com gelo raspado por uma maquininha manual sobre uma tábua em um carrinho de madeira com formato de barquinho. Nos bordos, ficam as garrafas de vidro com os diversos sabores de refresco. Na proa, fixam-se os copinhos e canudinhos. O operador na popa prepara o raspa-raspa em movimentos de vai e vem sobre uma pedra de gelo. O gelo assim raspado é colocado no copo e ao fim adicionado o sabor de refresco escolhido pelo consumidor. O do Regatão é servido com um canudinho de plástico, desses usados para tomar refrigerantes e sucos.
No último retorno meu de Soure para Belém encarei o raspa-raspa do Regatão, como, aliás, de vez em quando fazia. Era início de setembro e um sol escaldante das 13 horas pedia um alívio. O raspa-raspa do Regatão cumpriria essa missão. Escolhi o sabor muruci. Preparou e me deu. Na minha primeira aspiração (poderia dizer chupada...), em milésimos de segundo, senti uma coisa diferente: “Seria uma novidade! Pedaços da fruta dentro do refresco!”, pensei mais rapidamente ainda. Nesse lapso infinitesimal de tempo decorrido, cuspi! Depois de concluir que o murici não produz “pedaços” que possam se misturar no refresco e a gente sentir a sua deliciosa massa. Olhei para o chão pra onde tinha lançado o estranho conteúdo da minha boca. Observei, esperei mais alguns segundos. Finalmente vi uma coisa se mexendo ainda molhada, não acreditei: uma fininha centopeia de uns sete a dez centímetros de comprimento!
Parcialmente recuperado do susto e não acreditando no que via, falei pro Regatão: “Estás inovando! Agora teu raspa-raspa vem com centopeia! Melhor fosse se viesse com um turuzinho...”. O Rega olhou e perguntou: “Cadê?”. Ainda deu tempo de ele ver o bichinho se movendo por entre as folhas da grama. Impávido e encorajador virou pra mim como se nada tivesse acontecido, me entregou um novo canudinho e disse: “Toma com esse daqui. O pacote daquele já tava aberto...”. E embarquei na balsa e nessa viagem incrível do raspa-raspa com centopeia!
Taqui o Rega:
