segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Tem centopeia no raspa-raspa

Na rampa de embarque e desembarque de veículos e pessoas localizada na margem esquerda do rio Paracauari, em Soure, Pará, existem, como em outros lugares afora, diversos vendedores de alimentos populares. São chopeiros, sorveteiros, cocadeiros, raspa-raspeiros, unheiros e coxinhas, dentre outros alimentos menos votados.
Lá, porém, destaca-se o Seu Regatão, vendedor de raspa-raspa. Pra quem não sabe ou não lembra, raspa-raspa é aquele refresco misturado com gelo raspado por uma maquininha manual sobre uma tábua em um carrinho de madeira com formato de barquinho. Nos bordos, ficam as garrafas de vidro com os diversos sabores de refresco. Na proa, fixam-se os copinhos e canudinhos. O operador na popa prepara o raspa-raspa em movimentos de vai e vem sobre uma pedra de gelo. O gelo assim raspado é colocado no copo e ao fim adicionado o sabor de refresco escolhido pelo consumidor. O do Regatão é servido com um canudinho de plástico, desses usados para tomar refrigerantes e sucos.
No último retorno meu de Soure para Belém encarei o raspa-raspa do Regatão, como, aliás, de vez em quando fazia. Era início de setembro e um sol escaldante das 13 horas pedia um alívio. O raspa-raspa do Regatão cumpriria essa missão. Escolhi o sabor muruci. Preparou e me deu. Na minha primeira aspiração (poderia dizer chupada...), em milésimos de segundo, senti uma coisa diferente: “Seria uma novidade! Pedaços da fruta dentro do refresco!”, pensei mais rapidamente ainda. Nesse lapso infinitesimal de tempo decorrido, cuspi! Depois de concluir que o murici não produz “pedaços” que possam se misturar no refresco e a gente sentir a sua deliciosa massa. Olhei para o chão pra onde tinha lançado o estranho conteúdo da minha boca. Observei, esperei mais alguns segundos. Finalmente vi uma coisa se mexendo ainda molhada, não acreditei: uma fininha centopeia de uns sete a dez centímetros de comprimento!
Parcialmente recuperado do susto e não acreditando no que via, falei pro Regatão: “Estás inovando! Agora teu raspa-raspa vem com centopeia! Melhor fosse se viesse com um turuzinho...”. O Rega olhou e perguntou: “Cadê?”. Ainda deu tempo de ele ver o bichinho se movendo por entre as folhas da grama. Impávido e encorajador virou pra mim como se nada tivesse acontecido, me entregou um novo canudinho e disse: “Toma com esse daqui. O pacote daquele já tava aberto...”. E embarquei na balsa e nessa viagem incrível do raspa-raspa com centopeia!
Taqui o Rega:
Imagem capturada em 27.09.2010: www.bomgadamata.wordpress.com/2006/05/01/regatao